Com
tanta informação disponível, fico impressionado quando alguns alunos me abordam
para questionar a idade da Terra. Estes trazem informações muitas vezes obtidas
em DVDs e impressos da internet mostrando que a Terra possui, no máximo, 10 mil
anos, questionando a informação contida nos livros didáticos de que a Terra
possui cerca de 4,5 bilhões de anos. Com muita paciência leio os escritos e
vejo os vídeos para poder me interar sobre o conteúdo. Não sou geólogo,
geógrafo, nem tão pouco teólogo, mas acho que tenho bom senso. Só para começar,
vocês já imaginaram quanto tempo leva para formar um fóssil? Substituir o
material orgânico de um animal ou vegetal por minerais até formar um molde
pretificado? Milhares de anos! Este é o grande argumento para não existir este
tipo de fóssil da nossa espécie (Homo
sapiens) que é relativamente recente, com idade entre 130 a 190 mil anos (www.nature.com). A idade recente da Terra é mais um discurso dos
criacionístas que se agarram nas últimas pilastras de um texto bíblico como
sendo a única “fonte científica”. A incoerência é tanta que vou utilizar os
dados dos próprios criacionistas:
1-
O Dilúvio Bíblico aconteceu quando
Noé tinha 600 anos de idade.
2-
Vamos considerar a cronologia dos
ancestrais de Noé, aproveitando os cálculos do bispo Ussher, que afirmou que a
Terra foi criada exatamente às 9 horas da manhã do dia 23 de outubro de 4004
a.C.
Com
estes dados, o Dilúvio ocorreu cerca de 2400
a.C, acabando com todos os seres humanos, exceto a família de Noé. Agora temos
uma história da humanidade com cerca de 4410 anos o que é incompatível com
vários fatos históricos, como exemplo: Idades das cidades maias, astecas e
incas; Construções como a pirâmide de Gizé, uma das maravilhas da nossa
história egípcia e da humanidade foi construída a mais de 4500 anos; Movimentos
das placas tectônicas; Eras Glaciais; Deriva continental e a ocupação humana da
América do Sul, Austrália e Nova Zelândia.
Será
que os renomados cientistas que dedicam sua vida pesquisando estão errados e
apenas “arquitetam” resultados para se opor aos criacionistas? Acho que os
pesquisadores nem lembram que eles existem.
Ainda
considerando a história da humanidade com cerca de 4410 anos, outro fato
interessante pode ser notado quando observamos as possíveis sequências de
gerações humanas. Considerando, por baixo, que a cada 20 anos pode ocorrer uma
geração reprodutiva humana, teremos cerca de 220 gerações para gerar toda a
população mundial até hoje. É bom lembrar que não estou considerando os altos
números de mortes naturais nos primórdios da humanidade e nas guerras. Será que
tem cabimento pensar em coisas assim? Bom eu duvido, mas acho que novamente a
paranormalidade entra em ação e explica o fato. Foi assim porque foi! Mas
acredito que nem todos os criacionistas são tão loucos assim.
Mas
voltando aos meus alunos, gostaria de dizer que a ciência, através de um
verdadeiro exército de pesquisadores renomados utiliza as mais modernas
tecnologias para datação das rochas e afirmam que a idade da Terra é de cerca
de 4,5 bilhões de anos. É fato que se existisse erro nesta datação, alguém que
tenha nome de peso entre os cientistas, já teria provocado um grande debate e
refutado esta informação (ou será que só existem competentes entre os
criacionistas? Eu desconheço um grande pesquisador criacionista que tenha sido
premiado por tais descobertas). É importante registrar que a Bíblia, “o manual
científico dos criacionistas”, em todo seu conjunto de obras não apresenta uma
idade para a Terra. Entretanto, mesmo assim, alguns criacionistas tentam de
todas as maneiras apresentar artifícios que possam desacreditar os resultados
obtidos pela ciência. Chegam até apresentar estudos detalhados da
impossibilidade de chegar à datação de 4,5 bilhões de anos. Qual o objetivo
desta ação se não existe qualquer citação bíblica? Chegam a propor hipóteses,
no mínimo curiosas. Eu acho que os criacionistas se reúnem e decidem assim:
Bom! Vamos procurar qualquer argumento que a gente possa convencer o nosso
público, não importa qual seja. Apresentam dados que levam seus seguidores (a
maioria sem qualquer condição de questionamento) a acreditar como verdades
sólidas que a redução do campo magnético da Terra ocorre de forma tão acelerada
que não suportaria vida antes de 10 mil anos. Com a medição do elemento Hélio
liberado pelos cristais de Zircônio, pode-se chegar a uma datação de cerca de 6
mil anos para a idade da Terra. Medindo a salinidade dos mares através da
quantidade de sal levada até eles pelos rios e a quantidade de determinados
elementos químicos levados até aos mares, também pelos rios, pode-se chegar a
apenas pouco mais de 6 mil anos. A formação dos deltas dos rios e, considerando
o rio Mississipi, o seu tamanho e crescimento chega-se apenas a 10 mil anos.
Os
dados descritos acima podem ser facilmente discutidos por profissionais
competentes, mostrando quanto ridículos são. O que a ciência lentamente vem
mostrando como resultado concreto passa a ser vista pelos olhos dos
criacionistas como a parte metafórica da Bíblia e os próximos “degraus” da
ciência que ainda geram certa discussão passam a serem os últimos pilares de
discussão dos criacionistas.
Considerando
que a Bíblia diz que o céu é sólido (Jó – Cap 37) e que é sustentada por colunas
(I Samuel – Cap. 2; Jó – Cap. 26), como isto não é uma pura verdade do “manual
científico bíblico” e sim metafórico? Várias passagens bíblicas, como a que a
Terra não se move, foi a base do geocentrísmo, ardorosamente defendido pela
Igreja, portanto, tido como uma “verdade”, hoje é considerado naturalmente
“metafórico”. Outras metáforas ainda, por incrível que pareça, são discutidas,
como Adão (o homem de barro) e Eva (a mulher costela), o dilúvio global (http://vidaedogma.blogspot.com/p/o-diluvio.html)
e Jonas (o Pinóquio bíblico) que viveu dias dentro de um peixe grande. É
interessante como os criacionistas acreditam nestas metáforas e ridicularizam
mitos extremamente semelhantes. Quem está certo?
O
grande problema, gerador de tanta polêmica, está relacionado ao ensino da
ciência nas escolas que enfraquecem aqueles que só se alimentam de fatos
religiosos e não conseguem abrir as “janelas do horizonte” se fechando dentro
de seus muros obscuros, impostos por dogmas inflexíveis passados de geração a
geração. A ciência é única em todos os cantos do nosso planeta, já a religião
não. Considero que existe uma analogia entre a religião e o futebol. A religião
e o time da criança são geralmente impostos pela família ou por grupos sociais,
sem qualquer chance de escolha pelo jovem indivíduo (acho que é medo de
escolher outra religião ou outro time de futebol). Entretanto, vejo mais gente
mudando de religião do que de time de futebol.
A
minha preocupação está na assimilação de conteúdos pelos meus alunos que terão
que fazer provas diversificadas e que devem responder sob o ponto da ciência e
não sob suas crenças, fato descartado nos conteúdos das provas. Quando me
deparo com aqueles extremamente radicais, proponho que sejam espertos,
respondendo como a ciência indica e continuem acreditando no que quiserem,
porque não existe qualquer problema com a fé.
Edson Perrone