4- O homem veio do macaco?



Quando falo sobre evolução biológica alguns alunos me questionam sobre a origem do homem. Sempre aparecem as mesmas indagações com bases criacionistas. É bom lembrar que nenhuma prova de acesso a Faculdades ou Universidades ou ENEM segue as ideias distorcidas dos criacionistas, portanto, devo esclarecer alguns pontos.
         A pergunta tradicional é: “O homem veio do macaco?”. O homem não veio de um macaco. Macacos atuais e o homem seguiram caminhos distintos no processo evolutivo, portanto, o homem é um tipo de primata como os macacos, existindo um ancestral comum que não era nem homem nem macaco. Darwin, ao contrário do que muita gente pensa, nunca disse isto e nenhum pesquisador respeitável pode falar tal coisa. Alguns pesquisadores evolucionistas, de forma humorada, citam que somos todos macacos e de certa forma esta brincadeira possui sentido, porque existem muitas semelhanças morfofisiológicas e genéticas (nosso DNA assemelha-se cerca de 98% com os chipanzés). Entretanto, é ingenuidade e falta de conhecimento pensar que os homens de hoje evoluíram dos macacos que existem atualmente.
         Um erro grave é afirmar que “o homem é descendente do macaco” e discutir “então os macacos não deveriam existir, porque eles evoluíram e viraram homens”. Esta afirmação e discussão só existem por desconhecimento dos processos evolutivos. Como já descrito acima, homem e macacos são provenientes de um ancestral comum que não era nem homem e nem macaco. Este ancestral comum se multiplicou e seus descendentes se distribuíram pelos ambientes e passaram a sofrer pressões seletivas diferentes e, com o passar de muito tempo, isolamento geográfico e reprodutivo, tornaram-se espécies distintas. Portanto, cada espécie existente hoje, seja homem ou macaco, é a melhor forma desta espécie em uma contínua evolução.
         Alguns, seguindo esta linha de discussão, apresentam mais um questionamento errado: “Por que os macacos não evoluíram?” Quem disse que os macacos não evoluíram? Quem disse que determinada espécie precisa evoluir? As modificações só ocorrem se existir diversidade e uma lenta seleção natural, onde somente as melhores formas para o ambiente atual sobrevivem. Se o animal está perfeitamente adaptado para as pressões ambientais que sofre, qual a necessidade de mudar? Cada macaco está perfeitamente adaptado ao ambiente em que vive e, comparando com o homem, os macacos são muito mais evoluídos na arte de escalar árvores e pular de galho em galho.
         Outro questionamento interessante é relativo à observação da evolução humana e dos macacos. Alguns alunos questionam “se a evolução existe como não podemos observar as mudanças?” e agregam “Qual o motivo do homem não evoluir mais, já que sempre observamos o homem como ele é?”. O processo evolutivo não é um processo rápido. As mudanças são tão lentas que na história humana registrada seria impossível constatar. Entretanto, com os registros acumulados poderemos ter, em um futuro distante, dados para comprovar possíveis mudanças (se elas forem necessárias). A evolução não para, quando necessário, é contínua e gradual e, portanto, o homem não parou sua evolução. Se considerarmos os dados científicos, sabemos que em determinada época os peixes foram os vertebrados dominantes que originaram os anfíbios e, posteriormente, os répteis que chegaram ao clímax da ocupação ambiental até há cerca de 65 milhões de anos. Estes animais deram origem às aves e aos mamíferos (o homem Homo sapiens só surgiu há cerca de 200 mil anos). A partir do momento atual, que novas formas de vida podem surgir no futuro?
         Um exemplo interessante para ilustrar a discussão pode ser obtido no aparecimento de novas bactérias e vírus. Estes organismos se multiplicam tão rapidamente que a variabilidade genética é extremamente recombinante, portanto, com pressões seletivas (usos de drogas e, no caso das bactérias, antibióticos cada vez mais potentes) ocorrem seleções naturais de forma intensas, sobrevivendo somente as formas mais resistentes. As sobreviventes passam suas características aos seus descendentes que vão se reproduzir sexuadamente com outros organismos resistentes, produzindo novas combinações genéticas que geram, de forma relativamente rápida, novas espécies.
         Espero ter esclarecido alguns pontos de vista equivocados, mostrando de forma simples aspectos evolutivos que são temas rotineiros de provas. Estou sempre disposto a discutir estes assuntos, bastando entrar em contato comigo através deste blog.
Edson Perrone