Com
muita frequência alunos me perguntam se acredito em Deus. Eu já tive problemas
para responder esta pergunta e sempre saía pela tangente, criando respostas
variadas, geralmente preocupado sobre o que os alunos poderiam pensar sobre o
meu ponto de vista.
Para
ilustrar o problema, vamos considerar uma criança, com sete anos. Ela,
facilmente, acredita nos mais diversos contos e lendas, como fadas, duendes,
Papai Noel e até que um coelho pode colocar ovos de chocolate. Ela e seus
amigos da mesma idade acreditam em tudo o que os adultos dizem, porque faz
parte de sua educação, de sua facilidade de assimilar informação e de sua
pureza, portanto, esta pequena criança está em uma idade de acreditar em tudo
que você lhe contar. Se você lhe contar sobre bruxas transformando príncipes em
sapos, ela acreditará em você. Se você lhe contar que crianças más ardem
eternamente no inferno, ela terá pesadelos.
As
pessoas, principalmente na religião católica, são obrigadas a seguir os rumos
da Igreja. Do batismo à intensa doutrinação cultural para a formação dos novos
cristãos, tudo ocorre sem a menor chance de questionamento. Dogmas são impostos
e, se não seguir, você poderá arder nos quintos do inferno. Como não acreditar?
Um
exemplo do medo dos dogmas da religião católica ocorreu comigo há alguns anos,
quando uma aluna me perguntou o que era partenogênese. Expliquei que
partenogênese é um fenômeno reprodutivo quando óvulos não fertilizados originam
novos indivíduos, como ocorre nos zangões, alguns lagartos e ocorreu com Jesus
Cristo. Quando falei Jesus cristo, quase fui crucificado! Como pude falar assim
de Jesus? Ora, o que eu falei? Se Maria deu a luz a Jesus sem ser fertilizada,
ocorreu uma partenogênese! Será que meu conceito biológico está errado? Puxa!
Agora é que percebi, Jesus foi haploide! (Suas células só tinham metade das
informações genéticas, a da mãe).
Eu
senti esta imposição dos dogmas da Igreja na pele, porque minha educação foi
dentro da Igreja Católica. Estudei em colégio de padres o meu primário, ginásio
(hoje ensino fundamental) e científico (hoje ensino médio). Portanto, minha
educação foi lapidada pelos conceitos religiosos e seus dogmas. Meus pais,
mesmo sem serem religiosos, escolheram as melhores escolas para eu estudar. Por
não ser batizado na Igreja Católica, me sentia à margem de tudo e de todos que
estavam ao meu redor, era o diferente. Achava que iria para o inferno e não era
digno de Deus, porque Ele, todo poderoso, iria me castigar por não estar do
lado dele, mas eu estava. Era puro, sem maldades, apenas uma criança carregando
um peso da imposição religiosa e, desta forma, fui criando meu mundo, meus
monstros e meus deuses.
De
forma semelhante à imposição religiosa, a científica, adestra aqueles com menor
capacidade de reflexão. Portanto, a
base da aceitação científica ou religiosa está na formação do indivíduo. Se
este tiver uma forte formação religiosa, poderá acreditar que o conceito
religioso é o verdadeiro caminho a ser seguido. Da mesma forma, considerando um
aluno que começa a sua formação universitária na área de astrofísica e,
portanto, sem a competência de negar as teorias que seus professores
apresentam, ele tem que aceitar os conceitos impostos e ter certeza que estes
levam à grande verdade. Ambos os conceitos, científico e religioso, são tão
abstratos, que não lhe resta outra opção a não ser “crer” nas informações que
são passadas e no que está escrito nos livros.
Agora
voltando à pergunta inicial, se eu acredito em Deus. Hoje eu faço uma comparação
com o futebol. Respondo que quando nasci meus pais não me deram uma camisa de
time para eu torcer. Gosto de esporte e assisto jogos. Devolvo a pergunta aos
meus alunos: Que time é melhor? Flamengo ou Corinthians? A resposta depende
muito. Depende se você é carioca ou paulista e qual é o time de sua família.
Existem pessoas que curtem basebol (que eu não tenho a mínima ideia de como
funciona) e não sabem nada de futebol. Da mesma forma, entre tantas religiões e
tantos deuses, quem está certo? Quem é melhor? Toda pessoa precisa acreditar em
um determinado Deus? Hoje sou livre dos dogmas e continuo achando que é melhor
assistir o jogo.
Edson Perrone